... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano IV Número 41 - Maio 2012

TUDA

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Revista de Poesia, Literatura & Artes, desde Janeiro de 2009.
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Poesia - Arnaldo Xavier

Da série S!GNOS: Ferramenta de Orixá VI, 2008
Massa, gesso e tinta acrílica sobre tela, por Guache Marques

(...)
9

água
água água água água água
nada de corvo

10

Manhã
daluz sangra
um galo

11

pavão
arco íris
de carne e osso

12

Noite
pássaro
templo negro

(...)

Poesia - Plínio de Aguiar

Yves Tanguy - The Rapidity of Sleep, 1945

Allegro

Existem
Presos em frases e deitados em mesas de bares
Mais extensos que o mundo.

Ainda assim
Nem tão imenso e fundo
O poema persiste.

SSA, novembro 2011

Poesia - Hamilton Faria

Pearl, by Vladimir Kush

Pérolas

Colhe as pérolas na turbulência do rio, filho
Não haverá nenhuma água parada em tua curta passagem
Acrescenta às tuas dores o prazer de ser em movimento
Porque parar nunca para teu mapa de êxtase
Coração ferido não mais há renascimentos
Onde pensavas em morte pois há grande vida
Quando pensavas na finitude dos dias
Onde pensavas que não há inicio mas sofrimento
Colhe as pérolas, filho, que o tempo ainda te habitará
Como uma dádiva a teus pés livres
Onde pensavas ausência de sóis
Mas sentenças e destinos

Poesia - Santiago de Novais

Ilustração enviada pelo autor

Palavras Cruzadas
(per Ladislau Pedro, un noveau ami)

Onde só silêncio
Coral acetinado
Abre-se voz
Luz centésima
Nota ré marcha Lux

Não confesso Para o bem
Nada sobre mim Para quem
Bem ou mal Me quer, nem me quer

Sou uma tira de fotograma. Você me vê?

Vivo em classe Épica
Não Econômica

Poesia - Dorival Fontana

Edvard Munch - Cupido, 1907, pencil and oil on board

Rima Perfeita

Entre linhas perdidas
procuro uma rima
para nós dois.
Não necessariamente
rica em palavras,
nem tão somente
pobre em sentimentos,
simplesmente sincera...
que sobreviva.
Que nunca termine
em ponto ou em vírgula.
Que não seja rara e
nem tão pouco precisa...
renascendo a cada dia.
Um soneto perfeito.
Um dueto explícito.
Exclamações dos sentidos
tantas vezes refeito
num beijo mudo.
Composto em versos.
Composto em prosa.
Conjugação dos desejos
contidos apenas no verbo amar.

Poesia - Pedro Du Bois

Perro Semihundido
una de las Pinturas Negras de Francisco de Goya
Ao Longe

Vai para longe
não leva a bandeira
fala com os de longe
não leva a pátria
sorri aos de longe
o sorriso esconde
a veracidade:

está aqui
na casa
na rua
na calçada
na mesa
no fundo
do bar

longe é estar presente
em não acontecimentos.

(Pedro Du Bois, inédito)

Poesia - Marina Alexiou

Joaquín Sorolla - Paseo a Las Orillas Del Mar

Vento a balançar as vestes
Longas, transparente, diáfanas em tons pasteis a combinar com os tons da areia dourada pelo sol do entardecer
Pensamentos buscam, obscurecidos pela sombra dos chapéu que complementa o seu triste vagar
Lento, detido em cada passo. Introspectivo e ausente. Cativado pela beleza do caminho...
Essa beleza norteia a sua vida feita de lembranças tão presentes. Enternecedoras.
Ela (a mulher) é como este passeio de fim de tarde. Crepúsculo ameno de incertezas. Apaixonado. Estrangeiro.
Hóspede de tantos sentimentos. Recebida por eles como se fora alguém de grande importância, é envolvida pelas suas vozes, seus abraços, desejos de boas vindas. Dedica a todos uma profunda amizade por conta dessa relação tão próxima.
São seus perpétuos companheiros que pedem respostas, mas que reconhecem os apelos do seu olhar e contam como alegres novidades as histórias que já foram.... Só para ela. Só para o seu desejo.
Caminham junto dela os seus caminhos. Perfilam-se na mais completa prontidão.
Como se fossem os únicos a ter possibilidade de existência real para o seu coração...
...De longe, ela parecia sorrir....

(Paseo a las orillas del mar - Joaquin Sorolla)

Poesia - Almandrade

The Tongue Painting - Stefan Kuhn

Rio de Janeiro

Uma noite bem carioca
roda de samba
quase carnaval
Carolina simplesmente
Pontim como uma fruta
doce de tão madura
acendia o desejo
revelava um segredo
entre um cigarro e outro
um beijo celebrava
a sensualidade da língua.

Poesia - Vagner Barbosa

Tatiana Iliina - Tennants of Time

Uma Tarde

“Uma tarde
é suficiente para ficar louco”

(Roberto Piva)
Os edifícios escancaram suas bocarras
Que nos moem nos escritórios
Onde soterramos os dias
As alegrias

Automóveis arrotam fumaça
Chapam transeuntes
Ocupados

Urubus remexem o asfalto
Desenterram nossas sombras precoces
Extraem as órbitas ocas
Dos olhos como sóis apagados

No céu cinza de nuvens carregadas
Estendem as asas e flutuam
Levando no bico nossas almas penadas

Poesia - Carla Andrade

Draw Me The World, by stickersticker

Tratado das perplexidades

Transitório e absoluto,
com dentes para o vazio,
o mundo procura, de matuto,
saber para onde vai o rio.

O rio conduz barco
e homem de alquimia.
Trança na água terra de luzes,
deixa à mostra pedras,
varizes e estria.
À noite, com a boca de estrelas,
e pernas de avestruzes,
recolhe todos os sonhos.

Aí, o silêncio ensina os ouvidos
a calar o corpo.
E o lodo,
essa lembrança de rugas,
cata insetos antes do sono.

Pela manhã, o mundo quer acordos.
O rio, contemplação.
Maestros de peixes
escondem contratos de criação.

Não existe filosofia para pássaros,
o vôo em bando não requer citação,
o tempo não aceita remendos,
nem prestação.

O fim do rio não pertence ao mundo
nem aos restos de nós mesmos... 

Poesia - Edson Bueno de Camargo

Claude Monet - Cliff Walk at Pourville, 1882
Precipício

ando sob o minguante
firmamento de escuro azul aveludado
abriga esta noite infinda
de cabras de pés de cobre

facas de aço vegetal
que crescem dentro de pedras vivas
ósculo orgânico dos confins da terra
fala com a língua de diamantes
(e tudo conspira o universo)

palavras de alabastro
palavras petrificadas
palavras borboletas
com asas lâminas de vidro
palavras runas
a contar os destinos

esta noite
dormir como um anjo
asas pregadas na rocha do precipício
sangrando pelos pés

Poesia - Vera Lúcia de Oliveira

Slices, by Rachel Austin

O coração das sementes

menina eu penetrava no coração das sementes
e olhava o mundo por baixo das raízes
penetrava nos ramos altos das mangueiras
por dentro da polpa de um fruto maduro
penetrava em tudo o que é coisa
que gostava de ser visitada
por minha mão e minha
alma de bicho